Os quatro vencedores do prêmio Oceanos 2016 traduziram a diversidade de gêneros literários da literatura contemporânea. Além do romance Galveias, do português José Luís Peixoto – primeiro colocado nesta edição –, foram premiados o romance A resistência, do escritor paulistano Julián Fuks, em segundo lugar, o volume de poesia O livro das semelhanças, de Ana Martins Marques, em terceiro, e os contos de Maracanazo e outras histórias, do carioca Arthur Dapieve, quarto colocado.

Galveias, cujo título é extraído do nome da aldeia natal de Peixoto, na região do Alentejo, é um mergulho no “Portugal profundo” e rural, cuja narrativa alinha personagens emblemáticos desse universo arcaico a partir de um evento (a queda de um meteorito em Galveias), o qual, simbolicamente, confere um sentido cósmico a essa comunidade que se extingue entre rústica violência, desolação, melancolia e choque com a modernidade.

Em A resistência, o tema dos traumas familiares deixados pelas ditaduras latino-americanas reaparece sob ângulo renovado – na figura do irmão adotivo do narrador: a possibilidade de que ele seja filho de desaparecidos políticos durante o regime de exceção na Argentina lança sobre a família um véu de segredos, silêncios, não ditos e interditos que Julián Fuks (filho de psicanalistas argentinos radicados no Brasil) maneja com argúcia analítica, associando a tensão emocional à reflexão sobre os mecanismos de resistência à desocultação da verdade.

O livro das semelhanças, da mineira Ana Martins Marques, é dividido em quatro partes, que percorrem cartografias e analogias, sempre buscando delicadas iluminações sobre o cotidiano, com poemas delicada e generosamente abertos para as experiências, as quais se tornam novas experiências ­– experiências poéticas.

Maracanazo e outras histórias reúne cinco contos. Aquele que dá título ao livro, “Maracanazo”, não se refere à fatídica final da Copa de 1950, entre Brasil e Uruguai – evento que gerou essa expressão –, mas sim à série de históricos fracassos que a Espanha experimentou no Maracanã, culminando, na última Copa, com uma eliminação prematura selada num jogo contra o Chile. É a partir desse dado factual que Arthur Dapieve constrói sua narrativa, na qual se confrontam um torcedor espanhol e uma brasileira de origem chilena que vivem um breve affair, envolvendo visões políticas e valores opostos.